Li a matéria sobre a colisão de navios com baleias, publicada hoje, 23 de novembro de 2024, no jornal Le Monde. Como presidente da Fenavega, não poderia me furtar a comentar um tema tão importante e delicado. A preservação das baleias e de outros cetáceos é uma causa legítima e necessária, mas as soluções propostas por vezes ultrapassam o bom senso, colocando em xeque a eficiência e a viabilidade do transporte marítimo, um pilar essencial da economia global.
Os dados apresentados no estudo publicado pela Science são alarmantes: o tráfego marítimo mundial se sobrepõe a 92% das áreas de distribuição de algumas das espécies mais vulneráveis, como as baleias azuis e as jubartes. Entretanto, a sugestão de limitar drasticamente a navegação em áreas de risco, ou até de reduzir velocidades em trechos de grande circulação, levanta preocupações legítimas. Essas medidas, embora bem-intencionadas, podem acarretar impactos severos para o setor, desde o aumento dos custos logísticos até atrasos no transporte de mercadorias essenciais.
Não é que o setor marítimo ignore o problema. Pelo contrário, inovações tecnológicas podem e devem ser usadas para reduzir o impacto ambiental sem prejudicar a eficiência das operações. Sistemas de monitoramento em tempo real, associados a alertas para tripulações, são ferramentas muito mais eficazes do que a imposição de restrições amplas e indiscriminadas. Além disso, a conscientização e o treinamento de operadores marítimos para identificar e evitar áreas críticas de trânsito das baleias podem contribuir significativamente para mitigar o problema.
Proteger espécies como Sweet Girl, a jovem jubarte mencionada na reportagem, é um objetivo que todos compartilhamos. Contudo, propor soluções que comprometam a navegação em larga escala é desconsiderar o papel vital que o transporte marítimo desempenha no abastecimento global, especialmente em regiões onde a logística terrestre é limitada. Não podemos nos dar ao luxo de tratar o setor como inimigo da preservação ambiental, quando ele pode ser, na verdade, um aliado importante.
Como presidente da Fenavega, acredito que é possível equilibrar conservação e progresso humano. A navegação pode, e deve, adaptar-se para minimizar os impactos sobre a vida marinha, mas isso precisa ser feito com base em diálogo, ciência e pragmatismo. Medidas radicais, como sugeridas por algumas propostas, ignoram a complexidade do setor e os desafios reais que enfrentamos para manter o comércio global em movimento.
A sustentabilidade não pode ser alcançada com soluções simplistas e extremas. Em vez disso, é necessário encontrar caminhos que promovam a coexistência harmônica entre a preservação ambiental e o progresso econômico. Estamos dispostos a colaborar para que esse equilíbrio seja alcançado, mas é fundamental que as soluções propostas levem em conta não apenas a proteção das baleias, mas também a realidade de quem trabalha e depende dos oceanos.
Raimundo Holanda C Filho - Empresário, Presidente da FENAVEGA, Vice-Presidente da CNT, Membro dos Conselhos do Sest-Senat, ITL e FuMTran.