15 Nov
15Nov

     O adiamento da criação de uma empresa conjunta pelas gigantes Amaggi, ADM, Bunge, Cargill e LDC no setor de transporte rodoviário levanta questões importantes sobre os impactos desse tipo de iniciativa no mercado de logística brasileiro. Essas empresas, que lideram o comércio de grãos e insumos, planejam criar uma operação própria de transporte, com frota de caminhões e motoristas contratados diretamente, para reduzir custos e otimizar a logística. No entanto, a entrada de um grupo tão poderoso em um setor essencial como o transporte rodoviário pode trazer consequências negativas para pequenas e médias transportadoras, além de reduzir a competitividade no mercado.


     O transporte rodoviário é o principal meio de escoamento da produção agrícola no Brasil, especialmente em regiões remotas, mas enfrenta custos elevados e infraestrutura precária. Durante o pico da safra, a demanda por transporte aumenta significativamente, elevando os preços do frete e tornando a logística ainda mais cara. Caso as gigantes do agronegócio passem a operar suas próprias frotas em larga escala, poderão controlar boa parte da oferta de transporte nesses períodos, pressionando as transportadoras menores e criando barreiras para novos entrantes no mercado. Essa concentração de poder poderia reduzir a concorrência, impactar a inovação e comprometer a sustentabilidade de muitas empresas do setor.


     Embora o Cade tenha aprovado a criação da joint venture, é fundamental que o órgão mantenha uma supervisão rigorosa, especialmente considerando o adiamento da operação e a possibilidade de ela ser retomada em um futuro próximo. Quando grandes players como essas tradings se unem em um mercado estratégico, como o de logística, há o risco de práticas que podem restringir a competitividade e prejudicar outros atores do setor. O Cade precisa estar atento para garantir que o mercado permaneça equilibrado e justo, mesmo com a entrada de um consórcio tão expressivo.


     Alternativas para as tradings poderiam ser consideradas para evitar esses impactos negativos. Investir em parcerias com transportadoras locais, por exemplo, permitiria modernizar o setor sem concentrar o poder de mercado. Além disso, o fortalecimento de outros modais de transporte, como ferrovias e hidrovias, poderia aliviar a dependência do transporte rodoviário e reduzir os custos de forma sustentável, beneficiando tanto as grandes tradings quanto os transportadores menores. Essas opções ajudariam a diversificar a logística no Brasil, promovendo um ambiente mais equilibrado e competitivo.


     O adiamento da joint venture é uma oportunidade para discutir caminhos mais inclusivos e sustentáveis para a logística no Brasil. O mercado de transporte rodoviário enfrenta desafios estruturais que precisam ser resolvidos de forma colaborativa e equilibrada, garantindo que grandes empresas possam reduzir seus custos sem sufocar os pequenos negócios. Soluções que promovam a eficiência logística, sem comprometer a concorrência, são essenciais para o desenvolvimento de um setor mais justo e resiliente, capaz de atender às demandas de todos os participantes da cadeia.

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.