A construção do megaporto de Chancay, no Peru, simboliza a expansão da influência chinesa na América Latina, integrando a região ao projeto global de infraestrutura da “Nova Rota da Seda”. Financiado pela China, o porto, que será inaugurado por Xi Jinping e Dina Boluarte, representa um passo significativo na consolidação da presença chinesa no continente. Situado a apenas 80 km ao norte de Lima, este novo centro logístico é visto como estratégico para o fortalecimento do comércio marítimo entre a Ásia e a América do Sul.
O porto de Chancay promete ser um divisor de águas para o comércio sul-americano, com um investimento inicial de US$ 1,3 bilhão. A infraestrutura é imponente, com guindastes e cais de águas profundas que permitirão atracar navios de grande porte. A Cosco Shipping Ports, responsável pela concessão de 30 anos, estima que o porto movimentará um milhão de contêineres em seu primeiro ano, potencializando a exportação de produtos da região. Esse novo eixo logístico almeja transformar o Peru em um centro de distribuição para o comércio entre América do Sul e Ásia.
A inclusão da América Latina na Iniciativa “Belt and Road”, lançada pela China em 2013, revela uma mudança no posicionamento estratégico chinês, agora buscando estreitar laços comerciais e geopolíticos com a região. Países como Peru, Argentina, Brasil e Chile podem se beneficiar da proximidade com a Ásia, reduzindo os custos e o tempo de transporte em até 20 dias para rotas antes intermediadas por portos nos Estados Unidos e México. Assim, Chancay passa a ser visto como uma ponte crucial entre os continentes, aumentando o dinamismo e a competitividade da América Latina.
No entanto, a construção do porto de Chancay gera controvérsias locais. Alguns moradores e especialistas ambientais temem que o projeto traga consequências negativas para a agricultura e a pesca na região. Miriam Arce, comerciante local, argumenta que a movimentação de caminhões e contêineres prejudicará as atividades locais. Já o biólogo Antony Apeño alerta para os impactos ambientais da escavação subaquática, que afetaram a flora e fauna marinha, alterando ecossistemas e expulsando espécies.
Enquanto o governo peruano e a China defendem o projeto como um marco de desenvolvimento regional, especialistas destacam que o megaporto é também uma peça na disputa geopolítica entre China e Estados Unidos pela influência na América Latina. A construção de um túnel ligando o porto à rodovia Pan-Americana e o uso de tecnologias de inteligência artificial no terminal são inovações que consolidam Chancay como um moderno hub logístico. Resta saber se o crescimento econômico previsto compensará as preocupações socioambientais da população local.